Entre alianças e pressões, grupo do governo enfrenta dilema para a disputa pelo Senado

 


Com a base pressionada, aliados inquietos e a sombra de ACM Neto crescendo nas pesquisas, Jerônimo Rodrigues tenta equilibrar poder, lealdade e estratégia para manter a hegemonia petista na Bahia




Os bastidores da política baiana fervem à medida que o grupo do governador Jerônimo Rodrigues (PT) se aproxima do momento decisivo para definir sua chapa ao Senado. O desafio é manter a coesão da base aliada que governa o estado há quase duas décadas, ao mesmo tempo em que tenta conciliar interesses de caciques, prefeitos e partidos que compõem essa engrenagem política complexa. No centro da disputa está o senador Ângelo Coronel (PSD), que, embora reafirme sua lealdade ao governo, vê seu nome ameaçado por articulações internas que indicam uma possível substituição por um candidato do PT.




A ausência de Coronel em uma recente reunião entre o governador e a bancada estadual do PSD acendeu alertas sobre um possível afastamento do senador dos debates estratégicos. Jerônimo lamentou publicamente a falta do colega, destacando sua importância política e “energia positiva”, enquanto Coronel respondeu de forma serena, insinuando que o não convite pode ter sido parte de uma “estratégia do governador”. Apesar do tom conciliador, a tensão é evidente. Coronel afirma que o PSD pretende manter sua posição na chapa majoritária, com o seu nome como representante da legenda, sustentando que “time que não joga, não tem torcida”.


O dilema, porém, vai além dos nomes. O governo enfrenta o peso de 20 anos de poder, com cobranças crescentes de prefeitos e lideranças municipais por obras, investimentos e atenção às demandas locais. Com os recursos escassos e o desgaste natural do tempo, Jerônimo tenta equilibrar prioridades, atender às expectativas regionais, cumprir compromissos políticos e ainda manter o grupo unido diante das pressões por espaço. Nesse contexto, demandas coletivas como a construção do Hospital Regional do Vale do Paramirim, defendido por prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, deputados e cerca de 350 mil moradores, tornaram-se símbolo da necessidade de o governo apresentar resultados concretos antes das eleições.




Mas a disputa interna ocorre sob uma ameaça externa cada vez mais concreta. O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), segue como o principal nome da oposição e mantém forte influência nas grandes cidades, especialmente na capital e no entorno metropolitano. Pesquisas recentes indicam um cenário de polarização acentuada entre o grupo petista e o carlismo, com vantagem apertada do governador nas regiões do interior e crescimento de Neto nos grandes centros urbanos. O desafio do governo, portanto, é duplo: derrotar mais uma vez o adversário histórico e, ao mesmo tempo, impedir que fissuras internas fragilizem a aliança governista.


Nos bastidores, há quem defenda a manutenção de Coronel como forma de preservar o equilíbrio entre PT e PSD e garantir apoio no interior, considerando ser arrogância de Rui e demais membros, tentar impor três nomes do PT. Outros, porém, avaliam que a renovação com um nome petista fortaleceria a identidade do grupo e consolidaria o protagonismo do governador na montagem da chapa. A equação é complexa: qualquer movimento precipitado pode gerar ressentimentos ou afastamentos que comprometam a coesão necessária para enfrentar a oposição unida.



Em meio à disputa de egos, expectativas e cálculos eleitorais, Jerônimo Rodrigues caminha sobre um terreno delicado. A decisão sobre o nome ao Senado será mais do que uma escolha individual, representará o grau de habilidade política do governador em administrar um império político que já sente o peso do tempo. A Bahia observa atenta, enquanto o clima nos bastidores esquenta a cada dia, com a certeza de que o desfecho dessa trama pode redefinir o futuro do poder no estado.

Fonte: Joenal Eco