Moro confirma demissão e deixa governo que ajudou a eleger e blindar
Sergio Moro pediu demissão
e não é mais ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro. A decisão foi
anunciada horas depois de o presidente exonerar o diretor-geral da Polícia
Federal (PF), Maurício Valeixo, na madrugada desta sexta-feira (24). O agora ex-ministro
iniciou o pronunciamento pouco depois das 11h, com crítica indireta a
Bolsonaro, por criar e manter uma crise política quando deveria lidar com o
combate à pandemia do
coronavírus, e lamentando ter de tomar decisão dessa grandeza “num
momento como esse”. “Está morrendo um avião por dia”, disse, comparando o
número diário de óbitos com o potencial das tragédias aéreas.
Em seu pronunciamento, Moro admitiu preocupação em “preservar minha biografia” e foi categórico na denúncia de ingerência política e da falta de “condições de trabalho” para conduzir o ministério. Esboçou um ar de lamento por ter “abandonado 22 anos de magistratura”, em troca de um compromisso de que teria autonomia para trabalhar, mas que sabia dos riscos.
Em seu pronunciamento, Moro admitiu preocupação em “preservar minha biografia” e foi categórico na denúncia de ingerência política e da falta de “condições de trabalho” para conduzir o ministério. Esboçou um ar de lamento por ter “abandonado 22 anos de magistratura”, em troca de um compromisso de que teria autonomia para trabalhar, mas que sabia dos riscos.
Para compensar esses
riscos, Moro admitiu ter aceitado deixar a carreira mediante um “pedido de
pensão” como magistrado. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que
ingressou na magistratura junto com Moro, expressou espanto em seu Twitter:
“Algo nunca antes visto na história. E tal condição foi aceita?”.
“O
depoimento de Moro sobre aparelhamento político da Polícia Federal como base
para o ato de exoneração do delegado Valeixo constitui forte prova em um
processo de impeachment”, afirma ainda Flávio Dino.
Quanto
ao futuro, Moro disse que vai “começar a empacotar suas coisas”, dizendo que
não poderia prosseguir no cargo sem preservar a autonomia da Polícia Federal ou
concordância com uma interferência política na Polícia Federal, “com resultados
imprevisíveis”.
Moro
deixa a pasta com poucas glórias a relatar. O Ministério da Justiça atravessou
toda a sua gestão sem descobrir quem mandou matar a vereadora carioca Marielle
Franco. Também continua no ar a pergunta sobre onde está Fabrício Queiroz, o
que aconteceu no “laranjal” do PSL (pelo qual se elegeram Bolsonaro e seus
filhos) e como ficam os crimes de responsabilidade cometido pelo presidente
contra as instituições da República e contra a saúde coletiva em meio à
pandemia da covid-19.
Governos
do PT
Moro
afirmou que sua demissão decorre do fato de não encontrar no atual governo a
mesma garantia de autonomia que encontrou nos governos Lula e Dilma, que ajudou
a derrubar. Lembrou de sua trajetória como juiz, dizendo ter atuado em
“diversos casos criminais relevantes” e citou a Lava Jato, revelando
“preocupação constante da interferência do Executivo nas investigações” daquela
operação, que foi usada para tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da
disputa eleitoral de 2018, abrindo caminho para a vitória de Bolsonaro.
“O
governo da época tinha inúmeros defeitos, crimes gigantescos de corrupção, mas
foi fundamental a manutenção da autonomia da PF, seja de bom grado ou por
pressão da sociedade”, disse, reconhecendo que o governo Dilma não promoveu
qualquer interferências nas investigações relativas à Lava Jato. Moro tentou
acenar para o público bolsonarista ao afirmar que o diretor-geral da PF demitido
por Bolsonaro foi o responsável pela manutenção da prisão de Lula.
Ao
longo de seu pronunciamento, o ex-juiz e ex-ministro listou projetos
apresentados em sua gestão e enfatizou diversas interferências de Bolsonaro em
nomeações de cargo de suas confiança – com objetivo de ter acesso a informações
sigilosas.
Por
que trocar?
Em
seu perfil no Twitter, Bolsonaro postou a imagem de um trecho do Diário Oficial da União tratando da exoneração de
Maurício Valeixo, destacando em letras maiúsculas na postagem que cabe ao
presidente da República a nomeação do diretor-geral da Polícia Federal.
“Eu não indico
superintendente da Polícia Federal. Só indiquei o Maurício Valeixo, não é meu
papel fazer indicações de superintendentes”, reagiu Moro. O ex-juiz afirmou
que, na tentativa de substituição de Valeixo, houve uma violação da “carta
branca” dada a ele por Bolsonaro, e não haveria uma causa para isso, o que
configuraria uma “interferência política” no trabalho da PF. “O grande problema
é: por que trocar?”
O ex-ministro disse ter
reclamado a Bolsonaro que seria uma interferência política e o presidente falou
que “seria mesmo”.
“Eu sempre disse que não
tinha problema, mas eu preciso de uma causa, relacionada a desempenho, erro
grave. O que sempre vi foi um trabalho bem feito”, insistiu Moro. “O problema,
e o presidente me falou expressamente, não era apenas a troca do diretor-geral,
mas de outros superintendentes também, sem que me apresentasse uma
justificativa aceitável para essas mudanças”, disse.
Fonte: Rede Brasil Atual






