Consórcio Nordeste cria Brigada de Saúde para combater a covid-19
Medida
histórica abre espaço para estudantes, médicos formados no exterior e
voluntários atuarem no combate à pandemia.
O
Consórcio Nordeste, grupo formado pelos nove governadores da região para o
desenvolvimento sustentável dos estados, criou na terça-feira (29) a Brigada
Especial de Saúde. A iniciativa deve reforçar as equipes de saúde no combate
ao novo coronavírus.
O
objetivo é multiplicar o contingente de profissionais em campo com a
contratação temporária, por seis meses, de estudantes, médicos formados no
exterior e voluntários para atuarem na prevenção e assistência à população.
Segundo
o coordenador da Comissão Científica do Consórcio Nordeste, o
neurocientista Miguel
Nicolelis, a estratégia de atuação dos profissionais
contratados será feita com base em informações sobre o coronavírus fornecidas
pela própria população, por meio do aplicativo “Monitora Covid-19”,
desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele afirma que a implantação
da medida tem de ser imediata.
“Como
as pessoas vão poder fornecer dados clínicos pelo aplicativo, a gente vai ter
uma noção de onde estão os pacientes que precisam de ajuda imediata. A Brigada
vai ser o braço efetuador dessa estratégia. Armada das localizações, a Brigada
vai agir nos municípios, nos bairros, nas residências, tratando das pessoas. E
se for comprovado que elas têm o coronavírus, isolando elas para que não
aumente os casos de infectados”, explica Nicolelis.
Para
o neurocientista, a Brigada também é uma oportunidade de profissionais que não
podem exercer a medicina por não conseguirem revalidar diplomas estrangeiros –
atualmente, são cerca de 15 mil no país – cumprirem a “missão de salvar dezenas
e até centenas de milhares de vidas no Nordeste”.
Histórico
“Para
15 mil médicos brasileiros e estrangeiros que estão no Brasil sem poder
praticar a medicina, estamos oferecendo em cada estado do Nordeste, a
possibilidade de eles fazerem um processo rigoroso de revalidação do seu
diploma em seis meses. Eles vão ter esse componente de ensino-serviço. Vão
estar juntos com as equipes para ir na linha de frente do combate ao
coronavírus”, diz o coordenador da comissão.
Nicolelis
comemora a agilidade em aprovar a resolução. “É uma resolução histórica. Eu não
me lembro, na história do Brasil recente, de uma decisão tão audaciosa, dos
governadores, do consórcio. Em duas semanas a ideia foi da cabeça da gente para
uma resolução aprovada. Tempo recorde. É algo muito importante”.
O
médico sanitarista Hêider Pinto, professor da Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia (UFRB) e membro do Comitê Científico do Consórcio, ressalta que os
médicos contratados atuarão de forma móvel, identificando e se deslocando para
os principais centros de atenção à pandemia.
“Você
pode ter intercâmbio entre os profissionais. A gente pode imaginar que algumas
regiões do interior do Piauí vão começar a ter um pico da pandemia depois
de Fortaleza. Então você poderia ter uma situação de profissionais de Fortaleza
atuando no interior do Piauí, para dar um exemplo”, contextualiza.
Ele
explica que, antes de ir a campo, os novos profissionais passarão por
avaliações e treinamentos para a atuação com a população. “Nós não vamos
cobrar dele nada mais e nada menos do que se cobra dos médicos brasileiros.
Muitas vezes, nas avaliações para médicos formados fora do Brasil, se cobra
deles um padrão muito mais alto que para os médicos brasileiros”, lembra.
Equipes territorializadas
Hêider
afirma que uma das principais correções que se busca corrigir com a Brigada é
atenção primária – prevenção e contenção da doença aos primeiros sintomas.
“Já
que não se faz intervenção clínica no início e a unidade básica de saúde é um
lugar onde pessoas podem contaminar outras, tirou-se a atenção primária de
qualquer papel no enfrentamento da pandemia. A gente fica só com medidas
coletivas, como isolamento social, e fica com o cara quando ele começa a
descompensar e vai pro hospital”, comenta. “Eu posso mobilizar profissionais da
atenção primária para que possam ir até as pessoas no domicílio, com suspeita,
para poder tomar medidas”, propõe.





