'Vinham prometendo uma chacina desde novembro', diz filho de vítima de Fortaleza
Foram três ou quatro carros, os relatos são diferentes. De dentro dele,
saíram homens armados que, com calma, começaram a efetuar disparos. O
marceneiro Glauber Souza de Oliveira, de 24 anos, conta que seu pai, o
comerciante Antonio José Dias de Oliveira, de 54 anos, só teve tempo de jogar o
filho e a mulher para trás da barraca de lanches que mantinha na frente do
Forró do Gago, em Cajazeiras, Fortaleza, cenário da maior chacina da história
do Ceará. O comerciante morreu na hora. Glauber conta que, em mensagens de
áudio compartilhadas pelo WhatsApp, a chacina no bairro já vinha sendo
prometida desde novembro passado. Nas ameaças, integrantes da facção Guardiões
do Estado (GDE), diziam que "iam matar todo mundo" no bairro, visto
como área de influência do grupo carioca Comando Vermelho (CV), facção rival ao
GDE. "Meu pai era marceneiro, mas tinha o sonho de abrir o próprio
negócio. Quando o forró começou a ficar cheio, ele montou uma barraca na
frente. Vendia lanches, salgados, coxinhas, suco, café", diz o filho.
"Ele ficou entre o poste e a barraca quando começou o tiroteio. Meu irmão,
que estava junto, foi jogado pelo meu pai para trás da barraca. A mulher dele
estava junto e ele jogou ela também. Meu irmão foi atingido por um tiro na
perna. A mulher do meu pai não levou tiros", conta o rapaz, que mora em um
bairro vizinho à chacina e só soube do ocorrido horas depois. Oliveira
tinha nove filhos, de dois casamentos. O mais novo tem um ano, completado
recentemente, segundo o marceneiro - foi o pai que o havia ensinado o
ofício. O rapaz conta que, apesar das ameaças, não se pensava que o ataque
seria no forró. "É um forró normal, que vai todo mundo. Não era um lugar
que era festa de facção. Pelo que contam, todo mundo começou a correr, mas eles
entraram e começaram a atirar em um por um. Falaram que, depois que atiraram,
ainda ficaram por lá mais um tempo, deram volta na rua. Só depois de uns 40
minutos foram embora", relata. Na manhã deste domingo, 28, enquanto
fazia reconhecimento e cuidava das burocracias relacionadas à liberação do
corpo do pai, Oliveira comentava o ocorrido dizendo que aquele era o resultado
de uma escalada de violência que se notava havia mais de um ano. "Não foi
um fato isolado. Foi uma coisa que foi crescendo", dizia, ainda em choque.
Fonte: Bahia Notícias





