Caos no sistema penitenciário brasileiro
Corroborando
os nossos escritos anteriores, novamente trazemos à baila o caos que se
encontra o sistema penitenciário do país, considerando os últimos
acontecimentos, os quais deixaram perplexos todos nós brasileiros, ante às
atrocidades praticadas nos presídios de Manaus/AM e Boa Vista/RR. As
últimas notícias veiculadas pela mídia nos dão conta de algumas medidas que
estão sendo "pensadas" pelo Poder Público, como forma de se buscar
"compensar" a ineficiência e a total falta de estrutura das nossas
penitenciárias. Uma delas causou-nos espécie, superlativa, pois simplesmente
despreza-se ou "joga fora" toda a via-crúcis do fluxo processual
penal, senão vejamos: "a Defensoria Pública da União (DPU) sugeriu ao
Supremo Tribunal Federal (STF) que determine aos juízes de Manaus que soltem
presos no Estado, de modo a permanecer no regime fechado somente a
quantidade equivalente ao número de vagas em cada presídio." (matéria
publicada no site G1). Ora, isso é um absurdo e de uma leviandade sem
precedentes, pois coloca em vulnerabilidade todos os manauenses, já que terão
no seio daquela sociedade, deambulando livremente, delinquentes condenados que
feriram o pacto social, nos valendo de uma linguagem rousseauneana.
Em razão
desse descalabro e dessa medida imediatista - algo que tanto caracteriza as
políticas públicas de segurança, ante um grave problema com repercussão
midiática -, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) vociferou -
como não poderia ser diferente -, se manifestando contra tal medida insana. Por
sua vez, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou uma nota
asseverando que "o Poder Público precisa reassumir o controle das
penitenciárias e dos presídios", já que, na avaliação da entidade, estão
"controlados por facções criminosas." A que ponto chegou o
sistema penitenciário do país! Será que precisarão de mais quantas rebeliões
desse jaez para que as autoridades brasileiras despertem desse estado
letárgico, o qual infelizmente vem se apresentando, via de regra, como apanágio
de alguns Órgãos e serviços públicos? Basta dizer que, somente em Manaus e Boa
Vista, foram mais de uma centena de mortes, as quais chegaram a apresentar um
nível de abjeção tal que suplantam muitos suplícios praticados na Idade Média.
As
situações pelas quais passa o Brasil na atual conjuntura, no que toca à
segurança pública, não nos indica quaisquer sinais de melhora ou avanços
significativos que nos levarão à paz e a harmonia social, pois, a cada
amanhecer, o problema fica mais complexo, exigindo dos Poderes Públicos
estratégias de ação para conter essa explosão de violência que grassa desde há
muito. Na verdade, hoje estamos "chorando o leite derramado" - nos
valendo de um adágio popular -, já que o crime vem recrudescendo no país há
muito tempo, com a quase total ausência de políticas públicas efetivas para a
sua contenção.
Assim,
podemos inferir, sem qualquer hesitação, que a situação do sistema
penitenciário brasileiro está tão caótica e crítica, que a pena de prisão, via
de consequência de cerceamento de liberdade, está oferecendo àqueles que foram
sentenciados pela Justiça, nos inúmeros estabelecimentos
prisionais, quase que a mesma "liberdade" usufruída pelos
criminosos ainda não punidos!
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Por Irlando Oliveira
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* Irlando
Lino Magalhães Oliveira é Oficial da Polícia Militar da Bahia, no posto de
Major do QOPM, atual Comandante da 46ª CIPM/Livramento de Nossa Senhora, e
Especialista em Gestão da Segurança Pública e Direitos Humanos.




