Convencer que Lula é 'vítima' é uma tese menos difícil do que ideia de 'golpe' de Dilma
A confirmação de
que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado pelos crimes de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo Tribunal Regional Federal da 4ª
Região vai reforçar o discurso já pregado pelo PT desde a sentença do juiz
Sérgio Moro: Lula é uma vítima. O tom agora, no entanto, será mais exaltado e,
possivelmente, vai ampliar a dualidade Lula contra todos aqueles que julgam que
o ex-presidente é culpado pelos males do Brasil. Em que pese haver reiteradas
argumentações de que a ex-presidente Dilma Rousseff foi vítima de golpe das
elites ao ser alvo de impeachment em 2016, o julgamento desta quarta-feira (24)
não vai alterar a lógica dos pretextos. Há, conforme o entendimento de aliados
petistas, uma conspiração para remover os representantes reais da população dos
cargos para os quais porventura eles seriam eleitos. Tanto que as primeiras
reações após a manutenção da condenação de Lula foram no caminho de garantir
que o ex-presidente vai estar com o nome nas urnas em outubro de 2018, independente
da Lei da Ficha Limpa barrar a candidatura de indivíduos com sentença proferida
por órgão colegiado, como aconteceu no TRF4. Lula é um fenômeno popular e, como
consequência, eleitoral. O discurso do ex-presidente é capaz de encantar – e
muito. O que quer dizer o mesmo que o petista possui um canto de sereia
difícil de ser coibido. Diferente dos outros pleitos em que esteve presente,
Lula agora terá uma missão mais árdua: convencer que a Justiça, a imprensa e o
mundo conspiraram para derrotá-lo no “tapetão” ao invés de enfrentá-lo nas
urnas. E, por mais que esteja presente nas próximas eleições com a candidatura
sub judice, não enfrentará um caminho fácil. Enquanto no passado não havia
sobre ele um carimbo de culpado, agora há todo um arcabouço jurídico que
permite à oposição atacar o líder maior da esquerda no Brasil. Inocente ou não,
Lula agora é um condenado que pode vir a cumprir a pena em regime fechado. Tal
condição não pode ser negada. Com boa vontade, o ex-presidente pode até
convencer uma parcela expressiva do eleitorado brasileiro de que os 12 anos e
um mês de prisão a que foi condenado são uma pena injusta. Se a tese funcionar
melhor do que o “golpe” sofrido por Dilma, Lula já pode se considerar
vitorioso. Este texto integra o comentário desta quinta-feira (25) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às
12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM e Clube FM.





