Depois de homologação, expectativa é se citados em delações serão denunciados
Mundo político e jurídico especula quando será o
próximo ato de Janot em relação aos citados pelos delatores da Odebrecht e qual
o critério para escolha do substituto de Teori Zavascki
Mal foi anunciada a homologação das 77 delações
premiadas de executivos da Odebrecht e o mundo político e jurídico do país
começou a viver sob outras duas perspectivas. Uma delas, o anúncio, pelo
procurador-geral da Republica, Rodrigo Janot, de conhecimento da denúncia
contra políticos e empresários citados pelos delatores (quando será retirado o
sigilo destas informações). A outra, a escolha do novo relator da Operação Lava
Jato, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar de a presidente do STF, ministra Cármen
Lúcia, ter trabalhado durante o final de semana na leitura destas delações e de
o juiz auxiliar que vinha trabalhando mais diretamente com o ministro Teori
Zavascki na condução do processo, Márcio Schiefler, ter concluído os
depoimentos na última sexta-feira (27), havia uma previsão de que o anúncio
fosse feito até a noite de amanhã.
Mas Cármen Lúcia preferiu se antecipar, segundo
pessoas ligadas a ela, para dar sinais claros à sociedade. O de que vai atuar
para fazer com que a agenda preparada por Zavascki, que era o relator do
processo, seja seguida à risca e não tem interesse de compactuar com quem quer
atrasos na tramitação do processo. E, dessa forma, também evitar preocupações e
discussões em público sobre algum vácuo em relação à escolha do novo relator.
Por causa disso, o STF vive uma segunda-feira
atípica para o período. Embora a retomada dos trabalhos do Judiciário só ocorra
oficialmente a partir da próxima quinta-feira (2), vários ministros, a pedido
da própria Cármen Lúcia, já se encontram nos seus gabinetes para participarem
de reuniões extraoficiais entre os integrantes da Corte para discutir a questão
ou ter conversas isoladas com a magistrada.
O regimento interno do Supremo permite brechas
para a escolha do sucessor de Teori Zavascki na relatoria. Essas brechas podem
passar pela definição de um nome a partir de decisão de consenso dos próprios
integrantes do colegiado, por sorteio entre todos os integrantes, ou a terceira
opção: que é o sorteio entre os componentes da 2ª Turma (que é a turma onde
está sendo julgado o processo da Lava Jato).
Sorteio ou nome de consenso?
Vários juristas e magistrados de outros
tribunais davam como certa na última semana, a tendência, por parte da
ministra, de optar pelo sorteio na 2ª Turma. Acham, no entanto, que ela pode
ser demovida da ideia se a escolha por consenso dos outros ministros demonstrar
ser em torno de um dos decanos da corte. E o nome considerado mais adequado
para isto seria o de Celso de Mello. Além de ser o mais velho no tribunal,
Mello também faz parte do colegiado da 2ª Turma.
Se o sorteio for entre o colegiado da 2ª Turma,
a escolha será feita entre os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski,
Celso de Mello e Gilmar Mendes. Um outro grupo defende que o nome do ministro
Edson Fachin seja avaliado, mesmo integrando uma outra turma, pelo fato dele
ter sido o último a ser empossado no STF.
Já em relação ao oferecimento da denúncia
contra os nomes citados nas delações dos executivos da Odebrecht, conforme
avaliação de um juiz auxiliar do tribunal, o mais provável é que Janot demore,
no mínimo, de uma a três semanas. Como o próprio procurador-geral tinha pedido
ao STF, em comum acordo com Cármen Lúcia, urgência para esta homologação, o
entendimento principal é que pegará mal para ele demorar com o processo. Mas a
quebra ou não do sigilo das informações, muito provavelmente, terá de ser
decidida pelo novo relator – que, se espera, deve ser definido até sexta-feira
(3).
Cármen Lúcia divulgou que homologou a delação
da Odebrecht por meio de sua assessoria. Ela evitou dar entrevistas a respeito
e disse para assessores que pretende se pronunciar na abertura dos trabalhos do
Judiciário, na quinta-feira. Está programada nesta sessão uma homenagem ao
ministro falecido e uma posição da magistrada sobre sua conduta e a decisão por
fazer ela mesma a homologação, para evitar atrasos – o que chegou a suscitar
críticas sobre essa postura.
O STF retirou da pauta de quinta-feira três
outros processos que tinham Teori Zavacki como relator. Não foram incluídos
novos itens, justamente. por conta das decisões a serem tomadas pelo colegiado
– que devem tomar maior parte do tempo de trabalho dos ministros.
“Ela cumpriu com o que disse e com o que
pretendia. Missão recebida, missão cumprida”, afirmou um magistrado do STJ esta
manhã, cujo nome está cotado para substituir Zavascki no STF. Nos corredores da
mais alta corte, o que mais se lembrou entre jornalistas e analistas
judiciários não foi esta frase, mas uma outra, proferida por Cármen Lúcia logo
após retornar dos funerais de Zavascki: “Depois do luto, a luta”. Pelo jeito, a
ministra segue querendo dar entender que a luta principal da sua gestão começa,
de fato, a partir de agora.
Fonte: Rede Brasil atual